terça-feira, 4 de setembro de 2007

Solidariedade infantil

Hoje estou numa de solidariedade. De manhã lembrei-me de como os bebés são uns seres incompreendidos, e de como sofrem, pois é, de como sofrem. Por isso resolvi encarnar um bebé e deitar para aqui todas as minhas frustrações (como bebé).
Eu sofro porque falo e ninguém percebe o que eu digo. E ainda por cima gozam comigo, porque diga eu o que disser os adultos só se riem de mim, e só tentam imitar a minha maneira de falar. Devem pensar que eu sou algum palhaço.
Eu sofro porque me mijo e cago de forma descontrolada, e depois tenho de gramar com essa mistura desagradável colada ao meu cu até que alguém se lembre de ver se eu estou sujo.
Eu sofro porque quando estou deitado fico complemente impotente, não consigo ir a lado nenhum e mais pareço uma tartaruga quando fica de patas para o ar. Mas elas ao menos ainda se podem enfiar dentro da carapaça quando se aproxima alguém, agora eu tenho mesmo de gramar com os adultos a fazerem-me cócegas nos pés, na barriga, a dizerem-me coisas parvas em nhanhês que nem eu percebo, e a fazerem aquelas figuras parvas que só me dão vontade de rir porque são mesmo ridículas.
Eu sofro porque quando quero dormir aparece sempre alguém que ainda não me viu, ou não me vê a algum tempo, e pega logo em mim ao colo. E que apesar de eu propositadamente regurgitar um bocado do leite que tenho no estômago para a roupa dessas pessoas, elas continuam muito satisfeitas e não me largam.
Eu sofro porque acordo com fome de 3 em 3 horas, e porque há sempre um período do dia em que, inexplicavelmente, está tudo às escuras, e os meus pais vêm pegar-me todos despenteados e com umas caras muita feias, cheios de olheiras. E nesses ditos períodos eles parece que nunca estão com vontade de brincar comigo, apenas querem que eu volte logo a dormir, e depois parece que ainda ficam com pior cara se eu berrar um bocado para lhes chamar a atenção.
Eu sofro porque os meus avós quando me vêm têm reacções estranhas, pois parece que nunca tiveram filhos. Parece que a única ideia deles é fazer comigo tudo o que nunca fizeram com os deles, pura e simplesmente não me largam a berguilha.
Mas isto um dia vai acabar. Sim, porque um dia eu vou crescer e vou poder fazer o que quero, aliás, um dia, num futuro não muito distante, o mundo vai ser nosso. Nós, os bebés de hoje, iremos ser os governantes de amanhã. O mundo vai ser nosso! (esta parte final teria ficado mais gira com uma música de fundo, assim uma de um filme do Alfred Hitchcock, mas não deu).

4 comentários:

Pipokka disse...

lol então e as coisas boas hein? é só reclamar, reclamar!!! bolas!
mas tens razão, então aquela parte de nós andarmos a fazer figuras tristes para os animar.... os pequenos devem mesmo pensar que somos uns autênticos totós.
Mas olha, não acho que eles sofram assim tanto, eles são felizes :)

Jokinhas

Paula Raposo disse...

Está perfeitamente espectacular!!! Ia morrendo a rir...

Marta disse...

e a mania que o pessoal tem de os abanar para adormecer! Como se alguem gostasse de ser abanado para dormir

Maria Papoila disse...

Pronto, tiveste razão em reclamar no post seguinte.
Ser bebé deve ser uma chatice.
Espera e vais ver o que é sofrer quando cresceres! ;))